Inconscientemente ou conscientemente, enganamos dia-a-dia as pessoas com as quais nós convivemos. Fazemos isso muitas vezes sem perceber também que somos enganamos. Não quero afirmar que somos todos mentirosos. Geralmente, esses enganos não têm muita importância e eles possuem um papel essencial: fazer com que nossas relações diárias fluam sem muitos conflitos.
Da mesma forma, quereremos evitar conflitos também com o nosso próprio ser. E usamos igualmente o caminho do engano. O auto-engano não é apenas um conchego inteligente e uma expressão do amor próprio, é algo necessário para que vivamos em paz com nós mesmos.
Há também um fascínio pelo mistério, pelo não revelado. Um truque de um mágico só é interessante quando não sabemos o segredo, quando somos iludidos. É por isso que preferimos o engano. Somos seres que usam vendas para viver como cegos, somos preguiçosos demais para tentar descobrir a verdade.
Enquanto as pessoas param os carros para olhar corpos ensangüentados estirados na estrada, vítimas de acidentes de carro ou atropelamentos, elas não param para pensar porque estão fazendo isso. Depois, quando ficam sem dormir pensando nas imagens macabras ou descrevem os detalhes para chocar a família, também não se perguntam do porquê.
É muitas vezes incômodo expor o inconfessável. Mas o motivo é esse: da mesma forma que o homem é atraído pelo oculto, ele é atraído pelo mal. Não que a índole humana seja má, mas uma parte forte de perversidade está bem presente na alma humana. Nos alegramos, secretamente, quando vemos, pessoalmente ou através de vídeos na Internet, pessoas depressivas se matando no Pátio Brasil. Sentimos um pequeno conforto quando vemos pessoas mortas, é uma certa empatia reversa que sussurra “você não é aquele corpo sem vida e agradeça por isso”. O mal, quando está restrito às pessoas que não damos valor (geralmente desconhecidos ou inimigos), é um divertimento silencioso.
“Leôncio, filho de Aglaion, voltava do Pireu, próximo da face externa do muro norte, quando viu alguns cadáveres que jaziam perto do carrasco, e sentiu o desejo de observá-los melhor. Ao mesmo tempo sentiu repulsa diante da idéia, e tentou virar o rosto. Por algum tempo lutou consigo mesmo e tapou os olhos com as mãos, mas no fim o desejo venceu, e abrindo bem os olhos com os dedos, ele correu para os corpos, dizendo: “Pronto, malditos, deleitem-se com o adorável espetáculo.” (Platão, A república)
17/11/2008
?
Revolution (part 5), originally uploaded by Tous les noms sont déjà pris... pfff....
por Cristian Phillips às 19:53
Marcadores: pátio brasil
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